ALERGIA ALIMENTAR: Papéis dos Ac’s IgE e IgG4

ALERGIA ALIMENTAR: Papéis dos Ac’s IgE e IgG4

Por: Marina Fernandes Rodrigues
CRN9: 20224
Gerente de linha Nutri POC – ECO Diagnóstica

 

Reações Adversas aos Alimentos (RAA) é a denominação empregada para qualquer reação anormal à ingestão de alimentos ou aditivos alimentares, independentemente de qual a causa. Elas podem ser classificadas em tóxicas e não tóxicas. As reações tóxicas dependem mais da substância ingerida (por exemplo: toxinas bacterianas presentes em alimentos contaminados) ou das propriedades farmacológicas de determinadas substâncias presentes em alimentos (por exemplo: cafeína no café, tiramina em queijos maturados). As reações não tóxicas são aquelas que dependem da sensibilidade individual e podem ser classificadas em: não imuno-mediadas (intolerância alimentar) ou imuno-mediadas (hipersensibilidade alimentar ou alergia alimentar) (SOLÉ et al., 2008).

 

Alergia alimentar: Mediada por IgE – IMEDIATA

A alergia alimentar é uma reação indesejável do sistema imunológico onde há ativação celular e liberação do anticorpo IgE logo após contato, inalação ou ingestão (alimentar). Tem sido um importante problema de saúde no mundo, com prevalência crescente e impacto significativo na vida dos pacientes. O diagnóstico de alergia alimentar é baseado na história clínica e na evidência de IgE específica ao alérgeno, sendo o desafio alimentar oral o padrão ouro (PETERS et al., 2021).

Os sintomas que acontecem após o contato com o antígeno podem variar de uma coceira ou espirro, até um edema de glote ou choque anafilático, ou seja, podem variar de rapidez, intensidade e gravidade. Podem surgir de minutos a 8 horas após a exposição ao alérgeno (CARREIRO, 2019);

Principais Alimentos Alergênicos: Leite de vaca e cabra; Trigo (glúten); Soja; Cítricos; Ovo (principalmente a clara); Amendoim; Oleaginosas; Peixes e frutos do mar.

 

Intolerância/Hipersensibilidade Alimentar: Mediada por IgG – TARDIA

Na hipersensibilidade alimentar tardia (ou intolerância alimentar) há uma alteração intestinal da qual tem um crescimento das Bactérias Gram negativas que contribuem na produção de endotoxinas que promovem ruptura das Tight junctions, facilitando a passagem na barreira imunológica de frações proteicas alergênicas gerando uma exacerbação das respostas imunológicas e fisiológicas à ingestão de alimentos com a produção de anticorpos IgG e IgG4 específicos. Acredita-se que a intolerância alimentar mediada por IgG seja causada pelo aumento da permeabilidade intestinal, que permite que as substâncias alimentares tenham acesso à circulação. O aumento da produção de anticorpos IgG específicos para alimentos, juntamente com a diminuição da produção de citocinas antiinflamatórias, como IL-10 e TGFβ1, foram implicados na síndrome do intestino irritável (Shakoor, Zahid et al., 2016)

Os sintomas podem aparecer de 2 a 72 horas após o contato inicial com o antígeno (CARREIRO, 2019). E apesar de relatos conflitantes, a intolerância alimentar mediada por IgG foi associada a uma ampla gama de sintomatologia específica e não específica. Foi implicado em sintomas associados à alergia, como erupções cutâneas, urticária e asma. Sintomas gastrointestinais sugestivos de síndrome do intestino irritável, incluindo cólicas abdominais, diarreia e constipação.  Da mesma forma, também foi relatada uma forte associação entre manifestações neurológicas, como enxaqueca. A retirada dos alimentos intolerantes resultou na melhora significativa dos scores de sintomas nos pacientes dos estudos citados pelo autor Shakoor, Zahid et al. Os sintomas inespecíficos mais comuns, como fadiga crônica e queda de cabelo, também foram associados à intolerância alimentar mediada por IgG.

Tanto na alergia quanto na hipersensibilidade alimentar os testes devem ser associados a clínica do paciente para que o tratamento seja individualizado e otimizado para promover uma melhor qualidade de vida. O paciente não deve suspender alimentos sem uma devida avaliação. A retirada indiscriminada de alimentos pode resultar em deficiências nutricionais graves e prejudicar ainda mais o quadro clínico, uma vez que os alimentos têm nutrientes com propriedades imunomoduladoras e antioxidantes.

 

Referências:

Solé, D., Silva, L. R., Rosário Filho, N. A., Sarni, R. O. S., Pastorino, A. C., Jacob, C. M. A., … & Koda, Y. K. L. (2008). Consenso brasileiro sobre alergia alimentar: 2007. Rev Bras Alergia Imunopatol31(2), 64-89.

Peters, Rachel L et al. “Update on food allergy.” Pediatric allergy and immunology: official publication of the European Society of Pediatric Allergy and Immunology vol. 32,4 (2021): 647-657. doi:10.1111/pai.13443

Shakoor, Zahid et al. “Prevalence of IgG-mediated food intolerance among patients with allergic symptoms.” Annals of saudi medicine vol. 36,6 (2016): 386-390. doi:10.5144/0256-4947.2016.386

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