Doenças inflamatórias intestinais

Doenças inflamatórias intestinais

Por: Marina Fernandes Rodrigues
CRN9: 20224
Gerente de linha Nutri POC – ECO Diagnóstica

A doença inflamatória intestinal (DII) é um termo utilizado para descrever a inflamação descontrolada da mucosa no trato gastrointestinal, incluindo com maior relevância dois distúrbios crônicos, a retocolite ulcerativa (RCU) e doença de Crohn (DC).

A DII é uma doença que ocorre no início da vida em homens e mulheres. A incidência e a prevalência de DII aumentaram acentuadamente na segunda metade do século 20 e, desde o início do século 21, a DII tem sido considerada uma das doenças gastrointestinais mais prevalentes (GUAN, 2019).

A doença de Crohn geralmente envolve o íleo terminal, ceco, região perianal e cólon, mas pode afetar qualquer região do intestino. Em contrapartida, a colite ulcerativa envolve o reto e pode afetar parte do cólon ou todo o cólon.  Os sintomas presentes na DII são: episódios de dor abdominal, diarreia, fezes sanguinolentas, perda de peso (GUAN, 2019).

As alterações na dieta, uso de antibióticos, algumas patologias, fatores genéticos e ambientais, prática do tabagismo e estresse causam desregulação de espécies bacterianas, conhecida como disbiose (GUAN, 2019). O mecanismo patológico da DII envolve uma resposta inflamatória imunomediada descontrolada em indivíduos geneticamente   predispostos a um gatilho ambiental desconhecido que interage com o microbioma intestinal. O desequilíbrio da homeostase entre microbiota, epitélio intestinal e células imunológicas resulta em uma inflamação crônica. A permeabilidade da barreira intestinal elevada e a translocação de bactérias ou endotoxinas afetam localmente a sinalização de citocinas, aumentando as respostas intrínsecas e inflamação da mucosa, quebrando a tolerância imunológica e levando a uma resposta inflamatória anormal à presença de bactérias comensais (CAVALCANTE,2020).

A microbiota intestinal é fundamental para a homeostase e função intestinal, na saúde e doença. Estudos em animais demonstraram que a microbiota desempenha papéis pró-inflamatórios e anti-inflamatórios na patogênese da DII e, na maioria dos modelos de colite animal, a microbiota intestinal é indispensável para conduzir a patogênese (GUAN, 2019).

A ingestão de alimentos é um importante fator ambiental que afeta o desenvolvimento da doença. O consumo de frutas e vegetais tem sido associada à diminuição do risco de doença de Crohn e, em contrapartida, a ingestão de fast foods ricos em gordura e açúcar pode exacerbar o desenvolvimento da doença de Crohn. Os ácidos graxos de cadeia média são mais eficazes na aceleração da inflamação intestinal do que os ácidos graxos de cadeia longa. Na maioria dos países desenvolvidos ocidentais, os alimentos ricos em açúcar foram reconhecidos como um dos fatores de risco para a doença de Crohn, e aditivos alimentares artificiais presentes nas dietas ocidentais podem promover inflamação intestinal, interferindo na função de barreira no intestino (GUAN, 2019).

Gunasekeera e colaboradores (2016) analisaram em um estudo clínico randozimado e controlado a melhora de sintomas da doença de Crohn, com base na dieta de eliminação de alguns alimentos guiada por IgG4 em um estudo aberto. As dietas foram elaboradas por um nutricionista que não teve qualquer contato com os participantes. Os dezesseis tipos de alimentos testados foram: leite, amendoim, soja, camarão, ovo, tomate, carne de porco, carne bovina, bacalhau, batata, trigo, fermento, queijo cheddar, frango, cordeiro e arroz.

A exclusão de leite, carne suína, bovina e ovo foi mais fortemente associada à melhora dos sintomas gastrointestinais. As melhorias foram clinicamente significativas, com 41% dos indivíduos atribuídos à dieta verdadeira e apenas 16% atribuídos à dieta simulada experimentando uma melhora no CDAI (índice de atividade da doença de Crohn).

A dieta de eliminação guiada por IgG4 pode ser uma alternativa coadjuvante no tratamento dos pacientes portadores de DII.

 

Guan Q. (2019). Uma Revisão Abrangente e Atualização sobre a Patogênese da Doença Inflamatória Intestinal. Journal of immunology research , 2019 , 7247238. https://doi.org/10.1155/2019/7247238

CAVALCANTE, Regina Márcia Soares et al. O papel da microbiota na etiologia das doenças inflamatórias intestinais. RBONE-Revista Brasileira De Obesidade, Nutrição E Emagrecimento, v. 14, n. 86, p. 498-510, 2020.

Gunasekeera V, Mendall MA, Chan D, Kumar D. Treatment of Crohn’s Disease with an IgG4-Guided Exclusion Diet: A Randomized Controlled Trial. Dig Dis Sci. 2016 Apr;61(4):1148-57. doi: 10.1007/s10620-015-3987-z. Epub 2016 Jan 25. PMID: 26809868.

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