O papel do intestino na intolerância alimentar

O papel do intestino na intolerância alimentar

Por: Marina Fernandes Rodrigues
CRN9: 20224
Gerente de linha Nutri POC – ECO Diagnóstica

Além de absorver nutrientes e eliminar toxinas, o intestino está ligado a diversos outros órgãos e processos do organismo. Ele também age, por exemplo, na produção de neurotransmissores e hormônios e no controle do sistema imunológico e das inflamações pelo corpo. A microbiota é um dos principais determinantes do desenvolvimento do sistema de defesa. Acredita-se que a ocorrência de muitas doenças, tanto intestinais quanto não intestinais, estão relacionadas a desregulações ou interferências no desenvolvimento inicial do sistema de defesa da mucosa intestinal.

Entre as doenças que merecem atenção está a leaky gut (síndrome do intestino permeável). A permeabilidade intestinal aumentada se refere ao espaço aumentado (imagem 1) que ocorre entre uma célula e outra do epitélio intestinal, na maioria das vezes provocado por alterações na microbiota que levam a disfunções das proteínas tight junctions.

(imagem 1)

Esse quadro gera um desequilíbrio no organismo e pode manifestar através de alergias, sensibilidades (intolerâncias) alimentares, fadiga crônica e diabetes (CANINI, 2019). Nos casos de sensibilidade alimentar, após a ingestão do alimento específico ele irá promover uma hipersensibilidade devido as proteínas que fazem parte da sua composição (PUJOL, 2016).

Os sintomas geralmente são muito semelhantes a outras doenças, tornando-se difícil o diagnóstico. Dentre os mais comuns, temos:  , inchaço e diarreia crônica deficiências nutricionais, fadiga, dor de cabeça, dificuldade de concentração e confusão são sintomas vagos e difíceis de diagnosticar. Inflamação generalizada, dor nas articulações e condições de pele como eczema, erupções cutâneas e acne estão associadas ao intestino permeável, mas também podem ter uma variedade de outras causas (GASTROENTEROLOGY CONSULTANTS, 2019).

Como funciona a resposta imunológica?

O estilo de vida moderno pode ser uma das principais causas do aumento da permeabilidade intestinal. O estresse por exemplo, contribui para o desequilíbrio da flora intestinal e estimula processos inflamatórios. Esse processo inflamatório acontece quando as células epiteliais especializadas fazem a captação dos antígenos (Ag) como vírus, parasitas, bactérias e outros elementos e em contato com os linfócitos T e B, vão estimular a síntese de imunoglobulinas e anticorpos, sendo esse evento chamado de apresentação antigênica.  Depois disso, as células dendríticas também captam os Ag e apresentam para as células T helper naive (Th0) que estão localizadas nos tecidos linfóides do intestino, fazendo com que eles se diferenciam em linfócitos T distintos, que serão classificados de acordo com o tipo de interleucinas (IL) que produzem, podendo ser diferenciados em Th1, Th2, Th17 etc. Além disso, também ocorre aumento da expressão do receptor Tolllike 2, redução da expressão dos marcadores de células T regulatórias FOXP3 e densidade aumentada de linfócitos intraepiteliais (IELs). Com isso, as IL e anticorpos IgG e IgA produzidas irão sinalizar a presença do antígeno para as outras células imunes, que na maioria dos casos de sensibilidade alimentar estão relacionadas às proteínas ou as enzimas responsáveis pela quebra da estrutura proteica. O que o corpo deveria entender como nutriente, acaba vendo como antígeno. Toda essa resposta inflamatória mediada pela ingestão do alimento promotor da hipersensibilidade, pode desencadear no intestino delgado a atrofia das vilosidades, hiperplasia de criptas, infiltração linfocítica e disbiose intestinal, repercutindo em efeitos no organismo como um todo (AL ASAAL, 2019).

A dieta ocidental padrão, pobre em fibras e rica em açúcar e gorduras trans e saturadas, também pode iniciar esse processo. Além disso, o uso excessivo de álcool tende a sobrecarregar órgãos como o fígado, que libera substâncias tóxicas que afetam o intestino, gerando um desequilíbrio e o aumento da inflamação.

O tratamento inclui mudanças no estilo de vida. Redução do estresse, sono de qualidade e exercícios regulares também são muito importantes para a saúde intestinal. A alimentação é outro ponto importante na saúde do sistema digestivo, uma dieta bem equilibrada que incorpore muitas frutas e vegetais. Alimentos com fibras prebióticas (como vegetais e grãos integrais) também são importantes para ajudar a proteger as boas bactérias do intestino, consumir menos açúcar e adoçantes, álcool, fast foods e gorduras saturadas (GASTROENTEROLOGY CONSULTANTS, 2019).

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AL ASAAL, Karina. Sensibilidades Alimentares. 1ª. ed. [S. l.]: Karina Al Asaal, 2020. 35 p. E-book.

CANANI, Roberto Berni et al. Gut Microbiome as Target for Innovative Strategies Against Food Allergy. Frontiers in Immunology, [S. l.], p. 1-15, 15 fev. 2019.

PUJOL, Ana Paula. Intolerâncias e Alergias Alimentares. 1ª. ed. [S. l.]: Instituto Ana Paula Pujol, 2016. 62 p. E-book.

GASTROENTEROLOGY CONSULTANTS (Of Savannah). Leaky Gut:: What It Is and How to Heal It. InLeaky Gut: What It Is and How to Heal It. 1ª. [S. l.], 22 nov. 2019. Disponível em: https://www.gastrosav.com/blog/leaky-gut-what-it-is-and-how-to-heal-it/. Acesso em: 23 fev. 2022.

 

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