Reações de hipersensibilidade a aditivos alimentares

Reações de hipersensibilidade a aditivos alimentares

A portaria nº 540 – SVS/MS de 27 de outubro de 1997 define o termo – Aditivo Alimentar como “qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, transporte, acondicionamento, armazenagem ou manipulação de um alimento”. A função dos aditivos são de oferecer cores, sabores, consistências e aromas artificiais cada vez mais atraentes para satisfazer o paladar do consumidor.

Atualmente, mais de 5.000 compostos químicos são utilizados pela indústria alimentícia e farmacêutica para tornar seus produtos cada vez mais atrativos para o rápido consumo. Sabores, texturas e cores são lançados diariamente para dar novas formas a produtos que possuem cada vez menos nutrientes naturais (CARREIRO, 2019).

Os aditivos alimentares podem ser responsáveis ​​pelo aparecimento de sintomas associados as reações adversas mediadas por mecanismos imunológicos e não imunológicos, e podem variar de paciente para paciente. Os sintomas vão desde as manifestações mais leves (rubor ou corrimento nasal) a situações de risco de vida (anafilaxia), ou podem ser a causa do agravamento de doenças pré-existentes, como dermatite atópica (DA) (AUN et al. 2011).

Manifestações clínicas

Corantes alimentares são geralmente adicionados a alimentos, bebidas, medicamentos e cosméticos para torná-los mais atraentes e para realçar sua cor. Os corantes podem ser classificados como naturais ou artificiais e classificados segundo sua estrutura química como azocorantes ou não-azocorantes.

Os corantes alimentares foram associados a diversas reações adversas, principalmente em adultos, e, embora sejam raras, não devem ser menosprezadas.

Os azocorantes ou azóicos são corantes artificiais derivados pirazolônicos portadores do anel benzeno. Dentro desse grupo temos a tartrazina, que pode ser encontrada nos sucos artificiais, gelatinas e balas coloridas e está relacionada à ocorrência de urticária, angioedema, ao agravamento do eczema atópico e possivelmente, da hiperreatividade brônquica em crianças asmáticas. No entanto, seu papel nessas doenças ainda não é bem estabelecido.

Outros exemplos de azocorantes são o amarelo crepúsculo e o ponceu, esse último tendo um único caso de vasculite leucocitoclástica relacionada à sua ingestão confirmada através de provocação oral com 50 mg deste corante.

O grupo dos não-azocorante inclui a eritrosina, o anato (urucum), o açafrão e o carmim. A eritrosina é um corante derivado do iodo, que pode desencadear lesões cutâneas de fotossensibilidade, eritrodermia e descamação.

O anato é um pigmento amarelo natural extraído das sementes da árvore tropical Bixa orellana e tem sido associado a ocasionais casos de reação anafilática, além de urticária ou angioedema. O açafrão é outro corante amarelo, mas extraído da flor Crocus sativus, e foi descrito como causador de anafilaxia em um único caso. O carmim é um corante vermelho, proveniente do inseto Dactylopius coccus, muito utilizado em cosméticos, alimentos e bebidas e relacionado a vários casos de anafilaxia, asma ocupacional, além de alguns casos de reações dermatológicas.

Conservantes são substâncias que impedem ou retardam a alteração dos alimentos provocada por microrganismos ou enzimas. O BHA (butil-hidroxianisol) e BHT (butil-hidroxitolueno), são agentes conservantes antioxidantes sintéticos, derivados do fenol, e utilizados para conservação de alimentos ricos em gordura, além de alimentos secos, como os cereais. A intolerância ao BHA/BHT foi encontrada em pacientes com asma, rinite e urticária, além de ter sido descrito que ambos podem desencadear exacerbação de urticária crônica e dermatite eczematosa, embora a fisiopatologia dessas reações ainda não tenha sido completamente descrita.

Dentre os conservantes antimicrobianos destacam-se o cloreto de sódio ou o sal de cozinha, provavelmente o exemplo mais antigo de conservante antimicrobiano descrito, e os nitratos e nitritos, que atuam inibindo o crescimento da bactéria Clostridium botulinum em alimentos que contém carne crua. Algumas reações adversas, embora aparentemente raras, têm sido relacionadas aos nitritos, sendo descrito somente um caso de anafilaxia até o momento. Além disso, o papel dos nitritos na urticária crônica tem sido estudado.

O termo sulfito refere-se a substâncias adicionadas aos alimentos que, após reação química, liberam dióxido de enxofre, íon sulfito ou bissulfito. Essas substâncias são utilizadas para controlar o crescimento de microorganismos em diversos alimentos e bebidas fermentadas, tais como o vinho, além de agirem como agentes antioxidantes nas frutas e serem amplamente utilizados na indústria farmacêutica em diversos medicamentos e preparações. Os sulfitos podem desencadear crises de broncoespasmo em indivíduos sensibilizados, embora o mecanismo ainda não esteja completamente elucidado, além de estar em estudo sua relação com a ocorrência de urticaria, angioedema.

O ácido benzoico e o benzoato sódico apresentam atividade antifúngica e antibacteriana, sendo usados como agentes antimicrobianos em alimentos com pH baixo e bebidas. Embora poucos trabalhos tenham sido publicados sobre o mecanismo de ação dos benzoartos, acredita-se que esses conservantes possam desencadear urticária, dermatites e urticárias de contato e, mais raramente, broncoespasmo e angioedema.

 Mecanismos das reações adversas a aditivos

As reações adversas aos aditivos podem ser explicadas por efeitos farmacológicos, irritativos, tóxicos, imunológicos ou psicológicos. O entendimento dessas condições é dificultado uma vez que ainda não foram completamente elucidados os mecanismos fisiopatológicos envolvidos nas reações alérgicas (imunológicas) ou na intolerância (não-imunológicas) aos aditivos.

A produção de IgE específica clinicamente relevante foi demonstrada em alguns aditivos de fontes naturais, tais como carmim, anato, açafrão e eritrosina. Esses aditivos contêm proteínas de peso molecular suficiente para ativar uma resposta imunológica.

Uma vez que a maioria das reações mediadas por IgE é causada por proteínas de outros organismos vivos, os aditivos naturais estão associados a um maior potencial para anafilaxia como descrito, por exemplo, com anato (urucum), carmim, psyllium e goma de guar. Já foram relatos testes de puntura de leitura imediata e de IgE específica contra proteínas do inseto Dactylopius coccus que suportam o mecanismo mediado por IgE ao corante carmim.

O mecanismo IgE mediado também foi sugerido para a hipersensibilidade ao açafrão, uma vez que esse corante natural é extraído de uma planta encontrado também na forma de pólen.

Os aditivos são substâncias amplamente utilizadas na indústria de alimentos, como nos processos de produção de cosméticos e medicamentos. O diagnóstico da alergia ou hipersensibilidade deve ser concomitante a presença de história clínica sugestiva (ANDREOZZI et al. 2019).

 

Referências:

CARREIRO, Denise. Alergia, Hipersensibilidade e Intolerância Alimentar.2ª.ed.[S.l.:s.n.],2019

Aun MV, Mafra C, Philippi JC, Kalil J, Agondi RC, Motta AA. Aditivos em alimentos. Rev. bras. alerg. imunolpatol. 2011;34(5):177-186

Andreozzi L, Giannetti A, Cipriani F, Caffarelli C, Mastrorilli C, Ricci G. Hypersensitivity reactions to food and drug additives: problem or myth? Acta Biomed. 2019 Jan 29;90(3-S):80-90. doi: 10.23750/abm.v90i3-S.8168. PMID: 30830065; PMCID: PMC6502174.

ANVISA. Portaria nº 540, de 27 de outubro de 1997. Regulamento técnico aditivos alimentares, [s. L.], 27 out. 1997

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